Uma entrevista com Celso Antunes ...
Boa leitura!!!!Qual o diagnóstico que o você faz da educação básica no Brasil? Quais os principais problemas, avanços e retrocessos que a educação vive?
O Brasil, muito mais que países de outros continentes, deu gigantesco salto quantitativo nos últimos anos, quanto a acesso à escolaridade.
Deixamos para trás uma escola elitista e para muito poucos e popularizamos o ensino, tornando-o possível há muitos, em toda parte. Esse salto quantitativo não se faz sem inevitável perda de qualidade e de uniformidade que, com sofreguidão, estamos buscando superar.
Além disso, nossa História ensina que no passado não se pensava educação como efetivo instrumento de progresso e, por isso tudo, pagamos agora o preço de uma omissão criminosa. Ao contrário de países com outros sistemas de colonização, sempre se olhou educação como privilégio de uma classe e não imperiosa necessidade social. Esses fatos, entre outros tantos, mostram uma educação que necessita superar desafios e que, portanto, enfrenta inevitáveis obstáculos que essa superação impõe.
Na sua opinião, qual é o principal desafio para alavancar o desenvolvimento e a qualidade da educação em nosso país?
Não acho que essa questão possa sintetizar-se em uma única resposta, mas creio que uma delas, certamente, é uma pretensa "autonomia" que se concede aos professores, permitindo que se tornem insensíveis à necessidade de atualização.
Não é raro que muitos professores façam hoje com seus alunos o que há 20 anos ou ainda mais faziam e, dessa forma, acreditem que seu diploma garanta a perpetuidade imutável de sua ação. Se esse professor prestou concurso público, somente seu orgulho pessoal e seu interesse próprio o farão progredir. Não sentindo em si mesmo esse anseio, será barreira intocável em sua perniciosa ação, e força alguma poderá obrigá-lo a estudar, aprender, crescer e propiciar a seus alunos o impacto de sua positiva transformação.
Creio que toda ação docente necessita ser amplamente respeitada, mas respeito ao professor não pode significar que suas aulas sejam invioláveis, que suas provas se mostrem estáticas, que suas estratégias de ensino não se vejam tocadas por tudo quanto de novo hoje se conhece sobre aprendizagem.
O que surgiu de novo na educação depois de Paulo Freire?
Paulo Freire foi muito maior que a dimensão que lhe é atribuída por alguns de seus biógrafos.
O avanço despertado por seu método de alfabetização e a violência política de que foi vítima foram extremamente iluminadas e, para não poucos, Paulo Freire foi apenas criador de um método e personagem politicamente execrado.
Mas a obra de Freire vai muito além. A crença de que aula não é discurso, o envolvimento amplo da comunidade com elemento realista da transformação escolar, a preocupação em se fazer com que toda aprendizagem reflita a contextualização do cotidiano na utilização do saber e, sobretudo, a idéia de que não se aprende como quem adquire um objeto, mas como quem efetivamente se transforma, para transformar seu tempo são algumas pálidas noções que hoje já não mais constituem novidade a todo educador.